Terminei de ler o livro sobrecitado, no título mesmo, da editora Pandora, que contém, além da novela principal (e mais conhecida), um curtíssimo conto, chamado: “Markheim”. Mas, sem mais delongas, partamos para o essencial deste texto, que é a análise dos títulos emoldurados no título.
A novela já começa com tragédia, um homem atropela uma menininha na rua, este é Mr. Hyde, um dos protagonistas, homem horrível e inclemente, que depois descobrimos ser doppelganger, alter-ego, de Dr. Jekyll.
Acontece que este doutor, homem genial e aparentemente bom, descobrira uma “poção” especial, que revelava o que o homem faz no oculto. Isso remete a muitas ideias que populavam o imaginário corrente de seu tempo, em especial, no meio culto e bem-letrado — destaca-se, nesse ambiente, as ideias freudianas, que até hoje povoam o imaginário do povo.
Como se pode ver, é uma estória fantástica, precursora da boa, e agora velha, ficção científica. O subconsciente é explorado de uma maneira única e fascinante, onde Dr. Jekyll, após tomar essa poção manifesta toda sua maldade, e perversidade, e ainda, requintes de crueldade — evidenciado pelo assassinato de uma pessoa na trama.
Vemos, através do relato escrito do doutor, lido por seu advogado e amigo, sua lenta transição de homem bom, embora fingido, para homem mau, embora genuíno. Isso demonstra como, por vezes, das mais brancas ovelhas, vêm os mais asquerosos bodes.
Contudo, o livro não se limita a isso, pois ele apresenta um conto famigeradíssimo de Stevenson, o chamado “Markheim”. Que muito como a supracitada novela, apresenta um crescendo de emoções, passando do visualmente banal, para águas mais profundas.
Há nesse conto, um profundo dilema moral, fundado em um latrocínio, em que sobrenatural se mistura com natural; não se sabe se a figura que aparece para o assassino é um anjo, ou anjo caído, ou ainda o próprio Deus, mas na situação em específico, ele serve de bússola moral, de consciência, para o bandido.
Logo se percebe a predileção que o autor tem por temas intestinos, por embates e escaramuças do interior do homem, ora por meios de ficção científica, ora por meios de fantasia de fundo religioso.
Portanto, o que nós, leitores, podemos aprender com essas obras é: a psique humana é complexa e abarca realidades mais profundas, que não se revelam imediatamente para nós. Mas que, paulatinamente, vão se revelando, à medida que nos digladiamos com nossas próprias consciências, seja para o bem (Markheim se entrega a polícia no fim do conto), seja para o mal (Dr. Jekyll desiste da própria vida, pregado na cruz de seu desespero).